sexta-feira, 6 de abril de 2007

silêncio...


na foto: as atrizes Laura Harring e Naomi Watts em cena de Mulholland Drive
"Não é mistério nenhum o povo do jornal ter se incomodado. Eles eram melhores que ferroviários na resistência a qualquer coisa rotulada nova..."
"Tinha plena consciência do que havia me reduzido a esse estado de pieguice estudantil... Era sempre noite nos meus sonhos de vida jornalística..."
"Tom... o mundo real não existe....O realismo não é meramente outra postura ou atitude literária....como num romance..."
"Literalmente, eu fui moldado, formado, atrofiado e encontrei um sentido no mundo por meio do romance realista americano de meados e final dos anos 30"
"Dos catorze aos dezessete anos eu me entupi com as obras de Tom Wolfe..."
Isso é Thomas Wolfe e é Seymour Krim. Isso é gostar de escrever sem amarra, isso é um chute na burocracia, uma bicuda, aliás. E depois, ainda podemos bater no peito e arrotar com gosto de coca zero: é jornalismo.
O chefe que quer saber sobre horário, sobre o código da página, sobre a vírgula e a fonte, ele está morto. Ele é um zumbi com cheiro de queijo azedo que perambula na sexta-feira emocionada. Eu dou de ombros.
Estou no meio da rua, onde quem não quer salvação anda descalço em caco de vidro, estou aqui no meio de minha rua imaginária e eu olho no olho das pessoas que, como eu, também não precisam de cartão ou código de barras. Minha ciberutopia é ancestral, sabe? Meus códigos binários falam sânscrito, sussurram baixinho: "Talvez ainda haja tempo....".
Eu quero voltar a ter orgulho do que escolhi. Quando eu tinha treze, minha utopia combinava com aviões e pessoas gritando, um bloquinho espremido na multidão nervosa ou a voz doce de uma poetiza esquisita, o filme novo de David Lynch. Era qualquer coisa, qualquer coisa...
Era um beijo na boca desses intensos, de língua úmida e hálito de sorvete, era a lua nascendo amarela atrás do asfalto, eu tinha certeza de que podia chamar tudo isso de jornalismo antes de sentar no mundo real e querer sair.
O gancho aperta a minha vontade de ser mais. O lead despreza a minha fúria e eu preciso dela, eu preciso tanto dela pra suportar aquelas gargalhadas matinais.... Tô cansada de não ter tempo e desaprender a sinestesia dos outros, e eu sabia adivinhar a sinestesia dos outros, que nem adivinhar o signo ou as horas.
Quero um texto com todas as partes dos textos que eles mandaram cortar. Quero os travessões incômodos e sujos das pessoas, quero o bastidor em neon na primeira linha e uma manchete de bêbados com saudade daquele futuro que não vem nunca...
Se pudesse eu escrevia isso tudo lá em casa, mas a moça da velox tem a coragem de oferecer a meu namorado uma "super" internet discada, eu perguntei se vinha junto com uma fita cassete de brinde ou um pogobol para as crianças. ha ha.
É isso, pegar o que você não acredita e transformar em algo a seu serviço. Ou alguém vai dizer que o release da cia das letras sobre a série jornalismo literário não é prepotente e adorável?
"Como o dry martini e a voz de Frank Sinatra, o jornalismo literário é uma das grandes instituições americanas que fizeram o século 20"...
Cheguei atrasada na aula de ser livre. Agora fico aqui, correndo atrás de burocracia. Tá vendo que não tem chance de sobreviver muito tempo? Nem html eu sabia, quanto mais...
Semana passada, quando eu vi aquela cena de Munholland Drive foi que eu entendi tudo.
Quando aquele tio Patinhas gofa o café orgânico na sala de reunião, aquela, que vai decidir a atriz principal do filme e matar a criatividade do diretor, bom, quando esse tio gofa o café eu quase pulo da cadeira de alegria por finalmente ter entendido tudo.
Não sei vocês, mas todos os dias eu derramo litros de café em toalhinhas de falsa ficção...
[carlab]

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