terça-feira, 10 de abril de 2007

Proposta Indecente




Toca o telefone celular. O número não é conhecido, mas como o código é 3115, só podia ser coisa de governo ou de político.
- Sim?
- É a jornalista Regina, de O Jornal?
- Pois não, pode falar.
- Aqui é a secretária da deputada "fulana de tal..."

Lembrei que a deputada fulana de tal foi citada num desses blogs de política local - porque uma das primeiras lições que aprendi cobrindo política é que os repórteres de Política entram nos blogs de fuxicos políticos, logo de manhã, para saber as top 10 do dia. Uma história de inegibilidade envolvia a deputada fulana de tal. "Ôba", pensei. Eu mal começo a dar as caras pela Assembléia e a deputada fulana de tal, que nunca vi mais gorda na vida, já está me procurando..."Como será que ela conseguiu meu telefone?", penso.

- Pode falar.
- É que a deputada gostaria de marcar uma reunião com você, aqui no gabinete dela. Você poderia vir aqui amanhã às 9h?
- Não posso falar com ela para adiantar o assunto, por telefone?

Número anotado. Ligação na sequência. Alguém atende; falatório ao fundo. Plenário.

- Deputada fulana de tal? É Regina, a repórter de O Jornal.
- Oiiiiiii, minha filha! Como vai você?
– Be-em... –respondo, meio sem jeito com a intimidade forçada –...A senhora quer falar comigo? - digo, já com a caneta e o bloquinho a postos - essa história da inegibilidade...
– Então - finge que não ouve -, é você que está fazendo reportagem aqui na Assembléia, não é? Eu queria assim... falar com você quanto é para fazer a divulgação do meu trabalho aí no jornal...
- Não, deputada - ainda tento -, não paga nada para a senhora mandar informações aqui pro jornal. A editoria recebe e, dependendo da situação, a gente divulga.
- Não, mas não é isso não. Eu tenho assessor de imprensa no meu gabinete...mas é que eu queria assim, uma coisa mais certa, uma coisa que eu possa assim, a gente fazer um contrato e você divulgar as coisas que faz um parlamentar. A gente acerta um preço e faz...

Respiro fundo. Ou a deputada fulana de tal é sem noção ou está tirando uma com a minha cara.

- Ó só deputada, eu não posso fazer isso pela senhora porque eu estou cobrindo a área Política...é uma situação que não dá para conciliar, entende?
- Ah, é porque podia vazar né...

Não, não creio.

- Não é vazar deputada, eu não vou poder fazer isso pela senhora porque não é certo.
- Ah, entendo...é, eu tenho outro nome aqui, do [outro jornal], o nome dele é "tal".
- É, não sei. Liga pra ele então.
- Tá bom então, minha filha. Um grande beijo pra você.
- Tchau deputada - já estou desligando quando ouço algo e volto o celular à orelha.
- Mas qualquer coisa eu te ligo, viu?

Sem noção. E eu pensando que era matéria...humf...vá procurar o que fazer, mulher! Só queria saber quem foi o sacana que deu meu número de telefone pra ela. [regina b]

Um comentário:

Patricia Moura disse...

Regina, não creia mesmo em situações assim. Até porque elas deverão se tornar rotina em sua nova função dentro d'O Jornal. E a deputada é totalmente sem noção mesmo. Mas adorei a história.